quarta-feira, 23 de outubro de 2013

A culpa ainda é dos portugueses

 
Jabor vs Amorim


Uma coisa que me deixa triste (aborrecido, mas não propriamente amargurado, nem irritado), é a consciência que algumas pessoas têm do seu passado, ou melhor do passado dos seus povos.
Eu, como português, orgulho-me dos povos do meu passado. Foram vários, na época de cada um todos eles eram violentos, a violência fazia parte da sua educação e dos seus costumes, mas nem por isso eu sou uma pessoa violenta, nem sequer pretendo invocar aqui que os bandalhos que desgovernam o meu País são malandros por culpa de Visigodos, Suevos, Lusitanos, Romanos, Mouros que ocuparam o território que é hoje o meu País. Não, estes vigaristas são gatunos porque é a sua maneira própria de estar na vida sem consciência.
Reconheço que os meus antepassados cometeram muitos actos indignos de gente civilizada, mas eles não eram civilizados, embora pensassem que o fossem. Também praticaram muitos actos de bravura e eu orgulho-me disso e de toda a herança Histórica que chegou até ao presente, até mim.

Como português aborrece-me cada vez que ouço, ou leio, algo em que os brasileiros denigrem os portugueses. Como diz a minha mulher: "quem vive de passado é museu". Gostaria de conseguir demonstrar aos brasileiros como a sua presunção é indigna e injusta, mas isso não é fácil.

Felicito-me por haver pessoas que conseguem expor a verdade publicamente, mesmo que muitos não a queiram ver.

Apresento, a seguir, a resposta a este comentário infeliz de Arnaldo Jabor, no qual escreveu: «Eu explico o Brasil de hoje. Tenho 400 anos: avô ladrão, bisavô negreiro e tataravô degredado. Eu tenho raízes, tradição. Durante quatro séculos, homens como eu criaram capitanias, igrejas, congressos, labirintos. Nunca serão exterminados; ao contrário - estão crescendo. Não adianta prender nem matar; sacripantas, velhacos, biltres, vendilhões e salafrários renascerão com outros nomes, inventando novas formas de roubar o País.»


Francisco Gomes de Amorim responde-lhe assim, desta forma:


«Cheguei ao Brasil há 36 anos, já bem passado dos 40. Com razoável experiência de vida, e sempre, não só desapaixonado da política, como contumaz crítico.

Pouco tempo depois conheci uma “excelência”, deputado, que em meio de conversa com vários seus amigos, sobre o Brasil, sua situação, futuro, etc., pediu a minha opinião sobre o assunto, uma vez que eu chegara de fora, olhos novos, sem os ouvidos cheios da politiquice daqui.

Foi muito simples responder, com o conhecido provérbio chinês que diz: “Se os teus planos forem a um ano, planta arroz, se forem a dez planta uma árvore, mas se forem a cem, educa o povo!”

-“Cem anos...?!!! – Foi a exclamação de espanto e até de tristeza dos presentes. - “Cem anos para o Brasil entrar no futuro”?
- “E atenção! Cem anos a partir do momento em que se começar, a sério, a educar o povo”.

A verdade é que esse momento ainda não chegou, e parece estar para tardar, com as intelectuais iniciativas do MEC, como o ENEM esculhambado, Monteiro Lobato virando negreiro, e a ensinarem para que nóis fala mal, além da vergonhosa, infame cartilha explicando às crianças e adolescentes que sexo é para usar de qualquer forma!

A destruição da célula base de uma sociedade.

É evidente que não apoio qualquer forma de ditadura, mas não sou cego a ponto de deixar de ver o que se passa. Aqui, como por exemplo, em Portugal.

Não consta que houvesse este actual e permanente assalto à res publicano tempo dos militares, nem da ditadura portuguesa. Sempre houve ladrões e corruptos, aqui e em qualquer outro país do mundo, incluindo os evoluídos nórdicos. Mas ninguém pode levantar um só dedo que seja a qualquer dos generais que foram aqui presidentes.

Depois disso chegaram os pretensos democratas e a canalha revolucionária dos anos sessenta tomou conta do poder e das contas. Quantos membros do actual e anterior governo enriqueceram ou estão com processos nos tribunais?

Serão todos eles descendentes de portugueses, cujos avós eram ladrões, os bisavôs negreiros e os tataravós degredados?

Alguns têm nome português, como Fernando Pimentel, o que quis sequestrar o cônsul dos EUA em Porto Alegre. Mas e a dona presidenta? E o chefe da casa civil? E... tantos outros; serão todos descendentes de portugueses, ladrões, negreiros, etc?

E qual seria o problema de ser descendente de degredado? Não foi assim que se fez o imenso país que é a Austrália?

Outra pergunta que já uma vez fiz ao senhor Jabor e que, como costume, não teve resposta: “Porque o seu pai, sabendo desta desgraça toda, optou por emigrar para o Brasil? Não veio encontrar um país onde pôde educar o filho, dar-lhe conhecimento e cultura? Será que teria sido melhor que o Brasil tivesse sido colonizado por libaneses? Ou até por italianos – veja-se o exemplo da Etiópia e Eritreia – tipo berlusconiano?”

Ou alemães, ingleses, franceses, holandeses, espanhóis? Todos estes, nas regiões tropicais, deixaram o quê? Nada. Os portugueses deixaram o Brasil!

Não consigo entender porque o senhor Jabor, sempre que pode, insulta o passado dos portugueses!

Posso dizer-lhe que os meus dois avós, brasileiros, não foram ladrões. Um foi director duma companhia telefónica e acabou quase na miséria. O outro foi industrial e comerciante. Não conheci ninguém mais honesto.

Os bisavôs: um deles além de não ser negreiro, foi o fundador da primeira Sociedade de Emancipação de Escravos no Brasil, em Pelotas. No escritório dele reuniu-se esta Sociedade pela primeira vez, quando se alforriaram quatro escravas. O outro foi poeta e escritor, e no fim da vida era ajudado financeiramente pelo filho.

Tudo isto no Brasil.

E como é possível que o Brasil, estando no seu 189º ano de independência, ainda queira atribuir os seus descalabros de hoje a essa “herança maldita”?

O senhor, Arnaldo Jabor, sabe tão bem, ou muito possivelmente melhor do que eu, que tudo depende unicamente da educação. Em 189 anos o que tem proliferado são as faculdades privadas, fonte de lavagem de dinheiro e ensino abaixo de crítica, porque pertencem, quase todas à politicada.

Mas o alicerce, a instrução primária, é deixado ao descalabro, bem como a secundária, e até muitas escolas estão hoje nas mãos do MST, como sabe.

E o ensino técnico? Louvamos, só minimamente, alguns cursos do SENAI e SESC. Mas quando se sabe que, por exemplo, em França, um indivíduo que queira ser açougueiro, tem que fazer um curso de dois anos! Um soldador, quatro. E aqui?

Só falta citar nessa “herança maldita” o ter-se obrigado, ainda no século XVIII a que só se ensinasse nas escolas em português. Se isso não tivesse acontecido, teria havido uma pulverização de pequeninos brasis. No entanto, hoje, o MEC, quer que se ensine o tal “nóis tamo mais burro”!  E o ministro da educação será descendente de português?

Um país que renega o seu passado não tem futuro. Ciência antiguinha, mas uma grande verdade.

Depois que acabou o império britânico, foi a vez do império americano, dos yankees. Este já começou a agonizar. Está chegando o chinês. Depois a Índia. E o Brasil? Um país com tanta possibilidade! O Brasil não tem cultura nem tradição. Nem parece querer ter. Não tem suporte onde se agarrar. É por isso também que os pseudo revolucionários dos anos 60 não vingaram. Só tinham ideias importadas, e não ideais vinculados à terra de seus antepassados. O Brasil continua a ser a “terra dos outros”. Não dos índios, mas dos outros. Sempre dos outros. E isso é evidente ao ver como vota nas eleições. Por isso, apesar de ser uma potência emergente, faltam-lhe uns séculos de bom senso e educação de qualidade para se poder impor no cenário mundial, deixando de ser um exportador de matérias-primas, mas de ideias!
É verdade que o Brasil começa com as capitanias. Se o senhor fosse o rei de Portugal, como teria organizado esse começo de colonização? Mas, aqui para nós, foi muito mais fácil ter chegado aqui no século XX do que no XVI, não foi? E criaram-se igrejas, é verdade, o que teve a virtude de, durante muitos anos, unir o povo.

O que se faz hoje para transformar o Brasil num país sério, para não ouvir mais piadas de nenhum De Gaulle?

Critica-se Monteiro Lobato, paga-se vergonhosamente a professores primários e secundários, muitos dos quais não têm mais do que um miserável ensino primário, grande parte dos edifícios escolares mais parecem pocilgas, ignoradas pelas “autoridades”, mas ensina-se que todo o mal vem da colonização portuguesa.

Francamente, senhor Jabor, eu que sempre leio as suas crónicas, e o admiro, não posso acreditar que esteja falando sério ao querer desmontar assim o passado e os fundadores deste país.»

Rio de Janeiro, 25 de Maio de 2011


Fontes:

Cidadania & Educação


A Bem da Nação

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